Os pensamentos formam-se como chumbo. Os novos estados da matéria logram em mim novo posto, acaso antes se destinavam as vestimentas em limpas para sujas, amarrotadas para passadas agora admitem posturas de separação de cores, modos de lavagem, estágios do molho, horas para secagem e, agregado a estas verificações assumem-se as validações dos alvejantes, testes de amaciantes e análises de sabão (pó ou líquido, para limpeza pesadas ou delicadas). As atividades do domicílio são de vias regulares e repletas de nuances. O cheiro de roupas em lavagem que me perseguem entre os cômodos ainda me deixa curiosa. O barulho da máquina agora me pertence.
São os ruídos da casa nova que ainda me enlouquecem. Agora me cabem os acontecimentos do andar superior e ainda é num susto que me lembro desta responsabilidade. A estes barulhos ainda não eduquei meus ouvidos, brigo em lhes aprender. O som do seu silêncio, o rumor comum da madrugada, os passos de proximidade da porta que agora é minha. Cada cômodo tem sua própria voz, a área de serviços, o corredor externo dos fundos, a cozinha, a sala, a escada e os quartos, todos têm comunicação com os meus ouvidos falam-me do desconhecido, cutucam minha pele e testam-me em suas lições. Devo ser bem devota da vontade que anunciam, só assim fundarei mérito para permanecer em seu abrigo. O lar respira o ar de quem o habita e ele sabe e cultiva que o sabe e o cultiva. Simbiose.
Os pensamentos de chumbos trazem transtorno crítico a fruição do lar em formação porque ainda tenho esta aprendizagem sem penumbra, num negro escuro que não tem forma. Tudo novo. Há a referência de casa que temos desde o nascimento. Tudo novo. E o medo de destruir o conhecido abala. Tudo novo. As filosofias são testadas em sua prática. O novo abala, meu coração dispara.
Um comentário:
"O novo abala, meu coração dispara." Tudo novo.
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