9.6.11

Para Ana Vargas

O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com memória, imperecível.
Adélia Prado


Restou-me certa dívida de irmandade. Nós entrando no campus para te diplomar. Eu, ausente no auditório para ver-te habilitada. Gigante em você mesma. Girou o mundo e cresceu para ele. Desenvolveu-me menos incerta ou fugaz ascendente da redoma de incertezas para a autoridade das tuas concretizações. Eu te assisti de maneira aproximada, percebendo teus silêncios, tua pouca concórdia, a revolta do teu coração amoroso. Apesar do peito revolto soube trazer paz a ele, faze-lo modelo de ti mesma, execrando as soluções ortodoxas e primárias, espremendo-o com tuas diretrizes ferinas e assanhadas. Fez todo o tempo o amor apaixonar-se por ti.
Estou aqui há dez anos te observando, esperando este dia chegar. Já o dissemos tão longínquo e decimal e, hoje, é ele que traz tua renovação, a resposta de tantos votos, as novas perguntas para a tua missa de mais dez anos adiante – e novamente eu sondo esta realidade como longe, quase que abismada de já estamos aqui, neste hoje.
Teus cabelos continuam em cachos longos, teus cigarros ainda penetram tua boca. Tu és feliz. Porque, mesmo que tenhas te afastado do ideal, fez o teu real plural e próspero. Tens amigos, tens família, tens amor, tens labor. Tu és feliz. E por esta felicidade me faz contente por me ter contigo em prisma em tuas derrocadas.
Não partilhamos mais cotidiano, isto ficou para trás e, mesmo assim, estou eu aqui presente, fremente, freqüente em pensamentos e densidade. Aprendi com teus cabelos a cachear os meus. O meu mundo pertence-te um pouco, uma vez que ao me expor para fora tu estavas em movimento similar, num encontro de elevador, lembra? Estávamos nós comprometidas com as próprias buscas e a este compromisso nos revelou a vida tão própria como ela é. O caminho de uma fomentou a alameda da outra. Amo-te também pela memória de nós duas juntas. Criamo-nos em vida e caráter revelando-nos amores, som, voz e movimento. Os passos ritmados, a mobilidade, o torpor. Tudo que nos gerou e nos fez crescer.

Ao teu recomeço faço votos de prosperidade – aquela prosperidade que preenche e aquece – que nos oferece continuidade neste ciclo infinito. A este reinicio confio em teu dedo mágico: faça dos gestos prumo para teus horizontes mesmo que ainda lhe pareçam distantes – este dia nos pareceu longínquo certa vez, mas eis que estamos presentes nele!
 Presenteio-te nos termos de tua profissão: em organização e planejamento, para posicionar toda a massa de documentos a proporções mensuráveis. Fica como troféu de formada, graduada, proprietária de especialidades que são só tuas.
Parabéns, amiga. Agradeço pelo som de tua voz em meu peito. Agradeço-te pelas aventuras do passado e surpresas do por vir. Meu abraço é saudosista e valoroso por nós. Sou eu fruto do amor partilhado contigo.
Obrigada.
Sê feliz. Muito feliz.

M. Cambará N.

Niterói, 8 de junho de 2011

Um comentário:

Margarethrosef disse...

Lindo...como sempre...