Houve um projeto de dedicação a cartas a pessoas sorteadas. Algumas breves, algumas claras. Eis-me.
Minha querida,
Felicidade
enorme ter você como aluna. Fez a vida que nos encontrássemos nesta estrada. É
apenas um momento, você verá. Não temos muito tempo para este encontro. Digo a
você que, em principal, não é o encontro entre professor e o aluno. É a
revelação que ocorre entre o conhecedor e o conhecimento. Esta é a principal
elevação.
São muitos os
traços de desigualdade que nos une. Muitas as histórias que não são iguais.
Estamos aqui apesar dos desencontros e dissabores. Apesar de toda a degradação
que cultivamos em nosso coração. Digo isso por perceber o mundo, muitas vezes,
desconexo, nos levando a acreditar que o melhor argumento de defesa de nossas
vidas é o rancor, o ódio. A língua ferina. É equivocado, eu sei, pensar que
para responder faz-se necessário treinar astuciosamente as fruições serpentinas
da resposta atravessada, da dica atrevida, da picada do destrato e, até da
falta de educação.
Não é assim,
não fazemos nossa história nas ações de supremacia aos outros. Sempre haverá
quem nos dê pesos e medidas, sempre estão presentes as pessoas de olhar
suspeito, galgando nas nossas ações as críticas mais ferozes, atrozes,
mordazes. Mas, minha querida, não são estes aqueles a quem deve voltar-lhe a
face e observar a resposta. A fala destas almas diz respeito, apenas, das
escolhas que deixaram de fazer quando lhes foi dado o tempo de fazê-las. Agora,
nutrem-se das experiências alheias, agarram-se nas opções de outrem para
medirem o entusiasmo. Apenas comento que o “entusiasmo” dessas pessoas vis não
é o de ver a realização espelhada nos outros; a idéia colhida é transformar a
assunção alheia em derrapada no lodo. Como não fizeram suas partes nos momentos
nos quais deveriam agora desejam, de bom grado, que aqueles a quem observam
derrapem e deixem de ter os ganhos merecidos.
“Não saber é
ter coragem”. Seguir adiante mesmo sem ter, ao certo, os acontecimentos, é de
ousadia daqueles que se dispõe a construírem as histórias mais originais. Demonstrar
com seus gestos e atitudes o tamanho de ser original requer não adequar-se ao
risco do momento e explorar suas habilidades para além do visível. Nestas
atitudes existe o destemor de aparecer, de ser singular.
Conte com os
amigos leais, as amizades que lhe fazem lembrar-se de sua originalidade. São
aqueles que, mesmo quando não compreendem seus gestos, gostos, amores e
rancores, sabem dar um passo para trás e contemplá-la, considerando-a, apesar
do aparente “disparate”, maravilhosa.
Ser Maravilhosa
é perceber-se exuberante e única. Não deixe essa sensação genuína desprender-se
da sua história. Crie-a com afinco. Cultive a beleza que rege seu coração e
faça-a manto do seu reino. Beleza. É meu segundo voto que dedico para a sua
vida.
Deixo aqui o
meu registro de felicidade em partilhar, por alguns minutos, um pedacinho da
sua história na minha existência.
Beijo-abraço-carinho
da professora.